Vinte e um anos intensos de pontificado, dos quais um quarto transcorridos em viagens, e uma saúde cada vez mais delicada não abalaram a determinação do Papa João Paulo Segundo, 80 anos, de prosseguir sua missão à frente do Vaticano."Não sei a quem poderia apresentar minha demissão", declara invariavelmente o Papa que, ao assumir o cargo, comprometeu-se dia 18 de outubro de 1978 a conduzir os católicos ao terceiro milênio, tendo o Jubileu do ano 2000 como ponte.
No entanto, tem total consciência de que suas condições físicas diminuem, mas transformou essa debilidade em símbolo de valentia, fazendo - por exemplo - gravar as palavras em latim Totus tuus (Todo teu) sob o monograma de Maria, para indicar que põe sua vida nas mãos da Virgem.
Há duas semanas, aceitou sem reticências ser transportado numa pequena plataforma sobre rodas na Basílica de São Pedro para - oficialmente - ser melhor visto pela multidão; mas, de fato, seus deslocamentos até o altar da basílica mais longa do mundo são muito difíceis para ele.
Pediu um bengala para se apoiar, quando começou a ter problemas com a perna direita, depois da operação no fêmur há alguns anos.
No entanto o Papa, cada vez mais encurvado e que caminha cada vez mais lentamente, não apenas não renunciou aos numerosas compromissos do ano 2000, quanto parece disposto a assumir outros.
Se o Santo Padre demonstra mais idade do que tem é porque jamais se recuperou totalmente do atentado do qual foi vítima em 1981, na Praça São Pedro - cometido pelo terrorista turco Ali Agca -, no qual ele ficou seriamente ferido.
Recentemente anunciou que iria a Fátima, Portugal, para beatificar os dois pastorinhos que viram a Virgem dia 13 de maio de 1917. Essa viagem se soma a outra à Terra Santa no final de março; João Paulo Segundo deseja também ir a Ur, a cidade de Abraão. Esta viagem ao Iraque desapareceu por enquanto da agenda pontifical por motivos políticos.
Afetado pelo mal de Parkinson e por uma hemiplegia facial que dificulta a locução, João Paulo Segundo tem uma longa história de hospitalazação - foi internado sete vezes em 21 anos -, chamada de "viagem do Papa ao sofrimento" pelo Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano.
Primeiro líder da Igreja a aceitar ser visto em seu leito de hospital, João Paulo Segundo explicou recentemente o "segredo" de sua resistência: "poder dar tudo de si até o fim pela causa do reino de Deus".
"Apesar das limitações da idade, conservo meu amor pela vida. E agradeço isto ao Senhor", escreveu em carta, durante as comemorações do Ano internacional do Idoso, promovidas pela ONU.
Sua força de vontade e sua capacidade de transformar o sofrimento e as dificuldades físicas em ocasiões de orações são, para ele, mais importantes que os remédios que possa receber do médico de cabeceira, Renato Buzonetti.