A candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, lança hoje no Capão Redondo - um dos bairros mais violentos da capital - o projeto Sampa.Org, que pretende democratizar o uso da informática, com computadores doados por empresários. Trata-se da tentativa de pôr em prática uma plataforma de governo antes mesmo da eleição.Seguindo a linha do "governo eletrônico" planejado pela candidata, com o objetivo de fiscalizar e tornar públicos os atos da administração, também será inaugurado hoje um portal, o www.sampa.org, que funcionará como veículo de divulgação das ações do projeto. "A Internet pode ser usada para monitorar o governo, desde que se invista em transparência e interatividade, usando e popularizando oportunidades de acesso a este instrumento", afirmou Marta.
O Sampa.Org tem o apoio de empresas do porte da Microsoft, Microtec, Mitsca e 3Com, que entraram com doações de computadores, placas, modens e softwares (programas). A empresária Vânia Ferro, presidente da 3Com no Brasil, doou placas de rede: "Sou entusiasta deste projeto." Ela quer que a iniciativa continue, mesmo se Marta não ganhar. "Para isso, poderemos procurar até financiamento do Banco Mundial."
Marta diz que a utilidade da rede mundial de computadores na vida das pessoas vai do acompanhamento das decisões públicas à oferta e procura de emprego. O Sampa.Org também servirá para a divulgação do que acontece no bairro, possibilitando a navegação pela Internet sem custos para o usuário.
Pontos de presença - O projeto prevê a instalação de 20 "pontos de presença" no Capão Redondo até outubro, com dez computadores em cada um deles. De acordo com Ademir Ângelo Castellari, assessor do Instituto Florestan Fernandes - entidade ligada ao PT, que coordena o projeto -, 6 destes 20 pontos estão sendo inaugurados hoje.
"O bairro foi escolhido, principalmente, por ser organizado em várias associações, facilitando a instalação dos computadores", contou Castellari. Capão Redondo, que fica na zona sul de São Paulo, também tem número significativo de eleitores, segundo dados do Tribunal Regional de São Paulo: 174,5 mil.
Os empresários também colaboraram com dinheiro para um fundo que pagará os monitores dos cursos e a manutenção dos equipamentos. As associações de bairro, como o Centro Universitário Adventista, pagarão e fornecerão as linhas telefônicas para o uso da Internet. Pelos cálculos de Rodrigo Ortiz Assumpção, coordenador do Sampa.Org no Capão Redondo, o custo de implantação do projeto está estimado em R$ 650 mil.
"Para nós, governo eletrônico sem interatividade não existe e é por isso que é preciso, antes, acabar com os excluídos digitais", afirmou. No início desta semana, mal o projeto foi anunciado no bairro, 350 pessoas já se inscreveram para cursos de informática. Um dos instrutores, Rogério Atsushi Suenaga, de 26 anos, morador do Capão Redondo, deverá ganhar R$ 800 por mês por até 15 horas/aula por semana. Será um dos dois monitores do "ponto de presença" e deverá dar aulas para Irene de Souza Almeida, de 38 anos.
Irene está no último ano de magistério em uma escola estadual do Capão Redondo e, ao fazer estágio, viu no currículo que teria de saber informática. Ficou apavorada. "Nunca teria dinheiro para pagar um curso desses, que será uma benção para mim", afirmou. Mesmo assim, Irene argumentou que a iniciativa não influencia "de jeito nenhum"em seu voto.
"Não sabia da vinculação do nome da candidata do PT ao projeto, mas o que influencia meu voto é mais do que isso: é tudo que um candidato faz de bom, que dá bom resultado", concluiu.
